Introdução
O objetivo do presente trabalho é apresentar a construção da estratégia de comunicação nas redes sociais digitais próprias do e-COO. O projeto “e-COO: Cooperativismo de Plataforma: Inovação e Tecnologia social para o fortalecimento da agricultura familiar da Região geográfica imediata de Pelotas” é uma proposta de formulação e implementação de tecnologia social inovadora. Essa proposta visa desenvolver uma plataforma tecnológica para promover a comercialização solidária em um contexto cooperativista de “redes de redes”. Fortalecendo assim, a agricultura familiar na região.
O projeto possui parceria com as seguintes instituições: Universidade Federal do Rio Grande (FURG); Núcleo de Desenvolvimento Social e Econômico (NUDESE); Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-riograndense (IFSul); University of Toronto; Prefeitura Municipal do Rio Grande; Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR); Coordenação-Geral de Desenvolvimento Regional e Urbano (MDR); Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Este projeto está sendo desenvolvido a partir de indicadores sociais para matching, recomendação e auxílio à gestão da produção, compras, vendas e distribuição coletiva. Desta forma, como dito anteriormente, o objetivo deste trabalho é apresentar a construção da estratégia de comunicação nas redes sociais digitais próprias do projeto e-COO, para fins de divulgação da iniciativa.
Referencial teórico
O conceito de Cooperativismo de Plataforma, criado por Trebor Scholz (2016), possui três partes. Tecnologia democrática, solidariedade econômica e ressignificação de conceitos como inovação e eficiência. Os três conceitos visam um benefício a todas/os envolvidas/os. Diante disso, tomamos como um termo “[…] que descreve mudanças tecnológicas, culturais, políticas e sociais.” (SCHOLZ, 2016, p. 63).
Ao considerar que esta plataforma tecnológica em elaboração é orientada para atender consumidores e produtores diversos (idade, classe social, renda, escolaridade e outros marcadores da diferença), isso deve ser levado em consideração para tornar a plataforma e o conceito atrativo ao público-alvo. Neste caso produtores da agricultura familiar e moradores da região imediata de Pelotas com interesse no consumo de tais produtos. Portanto, é preciso planejar uma estratégia de comunicação que, ainda que abrangente, seja consistente para o público-alvo. Nesta perspectiva, surgem questões acerca das possibilidades sobre o uso das redes sociais digitais para a divulgação de produções sustentáveis. Como Junqueira (2014) nos coloca, utilizar as redes sociais como aliadas nas estratégias de divulgação.
Em relação às especificidades do projeto, parte desta escrita está apoiada na aproximação entre consumidores e produtores da agricultura familiar por meio das redes sociais. Por isso, o papel da comunicação do projeto é atuar na divulgação do mesmo. Bem como na promoção de informações e conhecimentos acerca da importância do fortalecimento da relação de compra e venda dos produtos oriundos da agricultura familiar.
Em outras palavras, visamos proporcionar maior reflexão por parte dos consumidores, para que se pondere a melhor escolha a ser feita. Assim como reflete Marcelo Pinto e Georgiana Batinga (2016), a ênfase na satisfação dos próprios desejos podem levar ao individualismo mas, por outro lado, possibilita o pensar acerca do que, como e de que forma estamos consumindo. Nos provocando a pensar que “Teriam esses pequenos atos, que representam reflexões positivas, força suficiente para uma possível ruptura com o modus operandi da sociedade contemporânea” (PINTO; BATINGA, 2016, p. 39).
Desta forma, o desafio para a estratégia de comunicação também é incentivar os consumidores a repensar seus hábitos e escolhas individuais, que reverberam coletivamente.
Percursos metodológicos
A metodologia de estratégia de comunicação é construída de forma fluida, pois ao lidarmos com este tema, estamos passíveis de mudanças a todo o momento. Para isso, fazemos o uso de redes sociais digitais, sendo elas Facebook e Instagram. As redes sociais são atualizadas desde junho de 2023, um mês após o início do projeto, com propósito de divulgação do e-COO, do trabalho oriundo de agricultores familiares e do cooperativismo de plataforma.
Tais dispositivos tecnológicos conectados em rede “são agentes que funcionam como mediadores ativos de interações, comunicações e transações entre indivíduos” (VALENTE, 2020, p. 80). Oferecendo desta forma “(…) a oportunidade de agir, conectar ou falar de maneiras poderosas e eficazes” (POELL et al., 2020, p. 3). Contudo, as redes sociais digitais desenvolvem um trabalho de coleta, processo, monetização e circulação de dados baseados em seus critérios de governança (POELL et al., 2020). Com isso, apesar de utilizarmos esses dispositivos como pontes de conexão tendo em vista melhorias socioambientais, a estratégia de comunicação está sujeita aos modos dessas redes sociais digitais mediarem as relações entre as publicações e os usuários.
Logo, para que o projeto tenha engajamento nesses espaços digitais, ou seja, alcance o maior número possível de feeds, depende-se principalmente de interações, como comentários, curtidas e compartilhamentos. Isso significa que a frequência dos posts, artes/fotografias utilizadas e legendas precisam ser planejadas e orquestradas para tal finalidade.
Resultados e discussão da estratégia de comunicação
As tecnologias de comunicação em rede com o amplo acesso às mídias sociais proporcionou o encontro entre diferentes grupos sociais (LEAL; SOARES, 2020). Sendo assim, utilizando as plataformas das redes sociais pretendemos sensibilizar a sociedade sobre consumo consciente, aproximar produtores de consumidores e promover conhecimento e informação sobre agricultura familiar. Esta rede de conexão aliada ao acesso às informações torna-se “um meio democrático e interativo que permite a comunicação entre pessoas de várias culturas, a qualquer hora e sem limites geográficos.” (JUNQUEIRA et al., 2014, p. 3).
Acerca da justificativa da escolha de utilização das redes citadas acima, segundo o relatório
produzido pela We are Social em parceria com a Meltwater (2023), no Brasil, existem cerca de 152 milhões de usuários ativos em redes sociais. O Facebook possui cerca de 109 milhões e, mesmo com uma queda percentual de 6% em relação ao ano de 2022, ele ainda é considerado a rede mais utilizada pela população. Já o Instagram, conta com 113 milhões.
A partir desta perspectiva, as redes se tornam para o projeto um ambiente fértil para alavancar o debate acerca do trabalho digno, economia solidária e tecnologia social. Pois, ao acionarmos uma estratégia de comunicação humanizada para a plataforma, como explicitado por Krucken (2009), podemos incentivar
maior participação do consumidor, que pelas suas escolhas, pode apoiar o desenvolvimento de cadeia de valor sustentável.
Entendemos o uso das redes sociais como um movimento fundamental para divulgação de informações do projeto e, também, conteúdos educativos sobre agricultura familiar, incentivando o consumo consciente. O ato de consumir pensando profundamente no funcionamento da cadeia produtiva, como analisa Sônia Marise Salles Carvalho (2022), “é importante já que produzir e consumir requerem uma avaliação crítica na forma de operar o sistema capitalista com base na inter-cooperação e fundamentação de redes solidárias de produção” (CARVALHO, 2022, p. 106).
Sendo assim, o acesso ao e-COO, através do Facebook e Instagram, possibilita aos usuários dessas redes a aproximação com o cooperativismo de plataforma enquanto este está sendo desenvolvido. Para além dos objetivos citados ao longo deste relato, esta familiarização por meio desses espaços virtuais pretende gerar também uma relação de confiança para o próprio uso da plataforma ao ser implementada.
Leia também: Marketing e comercialização: estudo de caso da plataforma e-COO
Considerações finais da estratégia de comunicação
O interesse na construção da plataforma será a utilização tanto pelos agricultores, quanto pelos consumidores, seja institucional, prosumidor, comercial ou individual. O termo “prosumidor”é uma junção das palavras produtor e consumidor, portanto é um indivíduo que consome e produz. Por isso a forma de comunicar e a facilidade na utilização da plataforma é fundamental.
O uso das redes sociais digitais, nesse sentido, além da divulgação da plataforma, acaba por aproximar o projeto do público, o que acaba sendo essencial para nós, considerando que temos uma responsabilidade pública de manter contato com nossos pares. “A democratização da comunicação, particularmente no campo, deve ser encarada com prioridade nas políticas públicas de inclusão social e combate às desigualdades socioespaciais” (CASTILLO; BERTOLLO, 2022, p. 493). Dessa forma, o caminho possível para assegurar que os agricultores e consumidores conheçam e acessem à plataforma é indo até eles com comunicações físicas e atrativas.
Referências
CARVALHO, S. M. S. As políticas públicas de Economia Solidária para o bem-viver: o consumo consciente como estratégia para o desenvolvimento sustentável (2022). In: VOGT, Camila de Moura; CARVALHO, André Cutrim (orgs.). Crescimento e Desenvolvimento numa perspectiva interdisciplinar: ensaio sobre o crescimento econômico brasileiro. Guarujá: Editora Científica Digital, 2022. Disponível em: https://downloads.editoracientifica.com.br/articles/220107371.pdf. Acesso em: 21 de ago. de 2023. p. 101-111.
CASTILLO, R.; BERTOLLO, M. Mobilidade geográfica como direito social: uma discussão sobre o acesso à internet no campo brasileiro. Revista da ANPEGE, [S. l.], 2022. DOI: 10.5418/ra2022.v18i36.16303. Disponível em: https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/anpege/article/view/16303. Acesso em: 21 ago. 2023.
JUNQUEIRA, F. C. et al. A utilização das redes sociais para o fortalecimento das organizações. XI Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia (SEGeT 2014). Resende (RJ), v. 22, p. 23, 2014.
KRUCKEN, L. Design e território: uma abordagem integrada para valorizar identidades e produtos. In: International Symposium on Sustainable Design (ISSD), 2009, São Paulo. 2º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável | 2º International Symposium on Sustainable Design. São Paulo: Anhembi Morumbi, 2009. v. 1. Disponível em: http://www.academia.edu/2487319/Design_e_territ%C3%B3rio_uma_abordagem_integrada_para_valorizar_ identidades_e_produtos. Acesso em: 21 de ago. 2023.
LEAL, P. S. T.; SOARES, D. V. Consumidor e Redes Sociais: A nova dimensão do consumismo no espaço virtual. Revista Pensamento Jurídico, São Paulo, Vol. 14, Nº 1, p. 224-247, 2020. Disponível em: . Acesso em: 19 de ago. 2023.
PINTO, M. R.; BATINGA, G. L. O consumo consciente no contexto do consumismo moderno: algumas reflexões. Gestão. org, v. 14, p. 30-43, 2016. Disponível em: . Acesso em 23 de ago. de 2023.
POELL, T. et al,. Plataformização. Revista Fronteiras – Estudos Midiáticos, v. 22, n. 1, p. 2-10, jan./abr., 2020.
SCHOLZ,T.Cooperativismodeplataforma:contestandoaeconomiadocompartilhamento corporativo. Tradução e comentários: Rafael A. F. Zanatta. São Paulo: Fundação Rosa Luxemburgo; Editora Elefante; Autonomia Literária, 2016.
VALENTE, J. C. L. Apresentação do dossiê temático “plataformas digitais, economia e poder“. Revista Eletrônica Internacional de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura, v. 22, n. 1, p. 78-96, 2020. Acesso em: 21 ago. 2023.
Autoras: Giovanna Soares, Juliana Tibinkowski Costa Farias, Mariana da Rocha Silva, Évilin Thaoane de Matos Campos.
Artigo originalmente publicado II Seminário Regional sobre Desenvolvimento e Agricultura Familiar (SERDAF). Disponível em https://www.furg.br/arquivos/Editais/2024/Anais_SERDAF.pdf