cooperativismo de plataforma

Inovação e Cooperativismo de Plataforma para agricultura familiar

Introdução

O presente trabalho visa compartilhar o processo de desenvolvimento do “Projeto “e-COO: Cooperativismo de Plataforma: Inovação e Tecnologia Social para o Fortalecimento da Agricultura Familiar da Região Geográfica Imediata de Pelotas”. Uma iniciativa inovadora e interdisciplinar que visa integrar a tecnologia com práticas cooperativas para promover a agricultura familiar no extremo sul do Brasil. Nesse sentido, o artigo está organizado da seguinte forma. Primeiramente, uma contextualização histórica da agricultura familiar no Brasil, abordando os desafios enfrentados e a evolução das políticas públicas. Em seguida, apresenta-se a fundamentação teórica do projeto e-COO, baseada nos conceitos de cooperativismo de plataforma, tecnologias sociais e economia solidária. Posteriormente, a metodologia utilizada para o desenvolvimento do projeto é detalhada, com ênfase nos processos de diagnóstico e na criação da plataforma digital. Por fim, são discutidos os resultados esperados, o impacto nas comunidades locais e as perspectivas de desenvolvimento sustentável promovidas pelo projeto.

Agricultura Familiar no Brasil

A agricultura brasileira, historicamente estruturada em ciclos como cana-de-açúcar, café e, mais recentemente, monoculturas de soja e milho, está intrinsecamente ligada à formação de latifúndios. Esses latifúndios, associados ao “desenvolvimento” econômico, contribuíram para uma significativa desigualdade social no país, onde grandes extensões de terra pertenciam a poucos, enquanto a maioria permanecia despossuída (Silva e Costa, 2023). A desigualdade no acesso às terras marca de forma tão profunda a história brasileira que o conceito de agricultura familiar ganhou destaque somente a partir dos anos 1980, especialmente durante a redemocratização. Na década de 1990, passou a ser debatido globalmente, com termos correlatos surgindo, como agricultura camponesa (Castro, 2023).

Políticas públicas

A visibilidade da agricultura familiar nas políticas públicas se consolidou com a criação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) em 1995. Embora a definição legal dessa categoria só tenha surgido na Lei nº 11.326 de 2006. Apesar de ter contribuído para a formalização da agricultura familiar, a legislação ainda limita a complexidade desse contexto (Grisa, Sabourin e Le Coq, 2018). A agricultura familiar é vista como uma “instituição de reprodução da família” que se relaciona diretamente com a terra e a produção agrícola (Silva e Costa, 2023).

Nesse sentido, a agricultura familiar adota um modelo mais sustentável, focando no cuidado com a terra e planejamento a longo prazo e mão de obra predominantemente familiar. Essas características, quando somadas aos baixos incentivos, ausência de políticas públicas mais eficazes e conflitos envolvendo a disputa pelo território com a agricultura de larga escala (agronegócio), contribuem para a percepção da agricultura familiar como um modelo retrógrado, que não utiliza tecnologias. No entanto, é importante levar em consideração que a agricultura familiar diverge do agronegócio tanto em métodos de trabalho quanto em objetivos. Trata-se de dois projetos societários completamente distintos e antagônicos. 

Nessa perspectiva, torna-se cada vez mais necessário investir em pesquisas e avanços tecnológicos que subsidiem a Agricultura Familiar brasileira. Uma vez que essa se mostra ambientalmente mais sustentável e socialmente mais justa. Portanto, é imprescindível investir em pesquisas e inovações tecnológicas que apoiem a Agricultura Familiar brasileira. Pois ela se revela como uma alternativa mais sustentável e socialmente justa. É nesse cenário que surge o Projeto e-COO. O projeto visa fortalecer essas práticas por meio de ferramentas digitais que promovam a comercialização e a colaboração entre os agricultores familiares

A emergência do Projeto e-COO para o fortalecimento da Agricultura Familiar

Lançado em maio de 2023, o projeto é financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e é desenvolvido em parceria com outras instituições, como a Universidade Federal de Rio Grande (FURG), o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFsul) e a Universidade de Toronto, no Canadá. Como dito anteriormente, o projeto visa fortalecer a agricultura familiar no extremo sul do Brasil. 

O Projeto e-COO é composto por três núcleos: Social, Comunicação e da Ciência da Computação. Essas equipes trabalham de modo sincronizado e colaborativo para a realização de um diagnóstico. Através de dados primários (resultado de questionários) e secundários (oriundos do IBGE, EMATER e etc.) acerca da agricultura familiar na região. Envolvendo o mapeamento da produção, da comercialização, da distribuição e do consumo de alimentos da Agricultura Familiar produzidos pelas comunidades locais. 

A atualidade dos objetivos do projeto

Desenvolvimento da plataforma tecnológica

O Projeto está desenvolvendo uma plataforma digital para a comercialização de produtos da agricultura familiar. A equipe do projeto trabalha na concepção e desenvolvimento da plataforma, envolvendo especialistas em tecnologia da informação e representantes da agricultura familiar. O processo inclui a realização de workshops e grupos focais para garantir que a plataforma atenda às reais necessidades dos agricultores.

Esta plataforma busca promover práticas cooperativas e solidárias, permitindo que os agricultores acessem diretamente os consumidores e consigam preços justos para seus produtos. Trata-se de um ecossistema tecnológico para obter um Mínimo Produto Viável (MPV), o qual se encontra em estágio intermediário. Nessa etapa de maturidade, tem-se uma versão mais simples e enxuta da plataforma, através da qual é possível apresentar a proposta e executar os testes primários.

Em relação ao ambiente utilizado, optou-se pelo uso da plataforma de mensagens Telegram, como canal de compra e venda, já que apresenta baixo consumo de dados,  interface intuitiva, e a longo prazo tem custo-benefício mais baixo do que o Whatsapp. Assim, não é necessário baixar aplicativos, sendo possível fazer as transações de compra e venda pelo Telegram.

O processo de transferência tecnológica tem sido desenvolvido por meio das feiras presenciais realizadas semanalmente no Armazém da Agricultura Familiar, na FURG. Semanalmente, os agricultores e agricultoras associados ao Projeto oferecem seus produtos tanto para compra online quanto presencial. O Projeto atua como mediador, criando as condições necessárias para que os associados possam realizar suas vendas também no ambiente digital.

Pesquisa científica e indicadores socioeconômicos

O projeto também se propõe a atuar no campo da pesquisa, gerando dados científicos que possam orientar políticas públicas e estratégias de desenvolvimento local. A coleta e análise de indicadores socioeconômicos são essenciais para compreender o contexto da agricultura familiar na região e fundamentar decisões informadas. Atualmente, o projeto está comprometido com a formulação de indicadores socioeconômicos que não apenas orientam a construção da plataforma tecnológica, mas também contribuem para a caracterização da agricultura familiar. Isso inclui a análise do perfil socioeconômico da atividade de agricultura familiar, os principais cultivos e as dificuldades enfrentadas para a continuidade de suas atividades no campo.

É importante ressaltar que o objetivo vai além de simplesmente possibilitar a comercialização de produtos da agricultura familiar online. O que realmente importa é transformar esse processo de inovação tecnológica numa imersão na realidade vivida por esses trabalhadores, buscando identificar e propor caminhos científicos que fortaleçam essa categoria. Assim, propomo-nos não apenas a apoiar a viabilidade econômica, mas também promover a valorização e a dignidade da agricultura familiar no cenário atual.

Diante disso, reconhecemos que uma fundamentação teórico-metodológica sólida e alinhada ao tema é essencial para conectar as experiências práticas da realidade em que estamos inseridos com o conhecimento acumulado nas pesquisas já realizadas sobre agricultura familiar. Essa articulação permitirá não apenas uma compreensão mais profunda das dinâmicas locais, mas também a construção de soluções efetivas que respeitem e potencializem as especificidades desse segmento.

Fundamentação Teórico-metodológica

A base teórica do projeto e-COO é estruturada em torno de três eixos principais: Cooperativismo de Plataforma; Tecnologias Sociais e Economia Solidária.

O cooperativismo possui uma longa trajetória histórica que remonta a mais de um século e meio. Uma das primeiras experiências de cooperativas modernas ocorreu em 1844, quando 28 tecelões se uniram em um bairro operário de Rochdale, Manchester, que na época era o centro da Revolução Industrial na Europa. Essa associação, conhecida como os Probos Pioneiros de Rochdale, evoluiu para a cooperativa de Rochdale, criada com o capital dos trabalhadores, com o objetivo inicial de aumentar o poder de compra coletivo (Alvear et al., 2023; Barzotto e Vieira, 2019). A iniciativa traduziu, em sua época, a necessidade de organização coletiva dos trabalhadores para garantir o acesso a determinados insumos.

Cooperativismo de plataforma

Em 2016, Trebor Scholz (2017) introduz o conceito de cooperativismo de plataforma, que envolve a criação de plataformas digitais para trabalhadores. O cooperativismo de plataforma surge como uma resposta ao capitalismo de plataforma, abordando questões fundamentais como propriedade coletiva, trabalho associado, remuneração justa e condições de trabalho dignas, além de promover governança democrática, transparência e portabilidade de dados (Scholz, 2017). 

Em outras palavras, o cooperativismo de plataforma representa uma abordagem inovadora que busca reverter as desigualdades frequentemente associadas ao capitalismo de plataforma (Scholz, 2017). Nesse modelo, os trabalhadores não são apenas prestadores de serviços; eles também se tornam coproprietários da plataforma digital que utilizam, o que lhes confere maior controle sobre as condições de trabalho e remuneração. Dessa forma, buscamos alinhar nossos objetivos à proposta do fairwork (2020), isto é, contribuir para a elaboração de plataformas que visem formas de trabalho justo.

Importa salientar que a luta por trabalho justo e decente faz parte das lutas trabalhistas do século 20, tendo sido conceitualizada em 1999 pela Organização Internacional do Trabalho. Ainda, no século 21 essa continua sendo uma demanda presente na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), como parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) (Rebechi et al., 2023). A ONU reconhece que o trabalho decente é essencial para erradicar a pobreza e promover a prosperidade. O trabalho digno e justo é uma premissa que se insere no Projeto e-COO a partir da adoção dos princípios da Economia Solidária, a qual pode ser compreendida como um conjunto de práticas e iniciativas que visam promover a justiça social e econômica. 

Economia solidária

Paul Singer argumenta que “não há como desconhecer que a economia solidária é parte integrante da formação social capitalista, na qual a concentração do capital incorpora o progresso técnico e assim determina as condições de competitividade em cada mercado” (Singer, 2008 p.109). A economia solidária se apresenta como uma alternativa ao modelo neoliberal, buscando formas de produção e comercialização mais justas. Singer (1997) discute a economia solidária como uma resposta ao contexto de desigualdade, ressaltando sua capacidade de gerar renda e empoderar comunidades.

Singer (2008) analisa a dimensão cooperativa como uma estratégia crucial para a afirmação da economia solidária como uma alternativa viável ao capitalismo tradicional. Embora essa economia busque alternativas ao modelo capitalista, ela não opera isoladamente. A formação de cooperativas ou complexos cooperativos revela uma estratégia organizacional que visa fortalecer o cooperativismo diante das dinâmicas capitalistas. Em um cenário de concentração de capital nas mãos de poucos, o avanço tecnológico tende a favorecer essa concentração, resultando em crescentes desigualdades.

Assim, enquanto a economia solidária tenta mitigar os efeitos negativos da concentração de capital, ela também é influenciada por essas condições, revelando a interdependência entre os dois sistemas (Singer, 2008). Dessa forma, em contextos de crescente competição e inovação tecnológica, a economia solidária deve se adaptar e buscar formas de se inserir nesse cenário, propondo soluções que possam coexistir ou desafiar o paradigma capitalista. Nessa perspectiva, o cooperativismo de plataforma surge como uma alternativa que potencializa essa lógica de colaboração e coordenação entre cooperativas.

Logo, um caminho possível para o desenvolvimento de projetos de economia solidária é que essas estejam entrelaçadas com projetos de tecnologias sociais, os quais podem se traduzir em iniciativas de cooperativismo de plataforma. Dagnino (2014) traz uma perspectiva crítica sobre as tecnologias sociais, entendendo-as como ferramentas que podem ser utilizadas para transformar realidades sociais, promovendo inclusão e desenvolvimento. 

Tecnologia social

As tecnologias sociais surgem como ferramentas que promovem a colaboração, a inclusão e a transformação social, pois são concebidas para atender a necessidades específicas das comunidades, integrando saberes técnicos e humanos, se diferenciando da visão de tecnologia, geralmente associada a instrumentos desenvolvidos por áreas como engenharia, física, química, biologia e matemática. A relação entre as ciências humanas e a tecnologia é  algo relativamente recente. Tradicionalmente, essas ciências eram vistas apenas como usuárias das tecnologias criadas por outros campos. No entanto, ao ampliar essa perspectiva, podemos compreender as tecnologias sociais como algo que vai além de meros instrumentos materiais ou tecnológicos (Adams et al., 2011).

Ao adjetivar a tecnologia como “social”, reconhecemos que ela não é neutra e que suas aplicações podem ter impactos variados (Dagnino, 2014). Esse entendimento questiona a visão tradicional de tecnologia, que muitas vezes prioriza o lucro em detrimento do bem-estar social e ambiental. É nesse contexto que surge o movimento por uma tecnologia social que, segundo Dagnino (2009), se configura como uma negação da tecnologia convencional, buscando alternativas que priorizem o coletivo e a sustentabilidade.

O conceito de tecnologia social “compreende produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representam efetivas soluções de transformação social” (RTS, 2010, in Adams et al., 2011, p. 20). Essa definição justifica nossa escolha pela abordagem teórica e metodológica que une ambos os aspectos, pois são indissociáveis. A integração dos conceitos teóricos  fortalece a base metodológica do projeto e assegura que esse possa efetivamente contribuir para uma análise adequada do contexto vivido pelos agricultores familiares dessa região, evitando a aplicação de técnicas deslocadas de sua filiação teórica. Minayo e Deslandes (2007) argumentam sobre como “o endeusamento das técnicas produz um formalismo árido ou respostas estereotipadas. Seu desprezo, ao contrário, leva ao empirismo sempre ilusório em suas conclusões, ou a especulações abstratas e estéreis” (p.15).

Economia solidária e tecnologia social

Nesse sentido, a associação entre os princípios da economia solidária e as tecnologias sociais é fundamental para o Projeto e-COO, pois facilita a articulação das demandas dos agricultores familiares com as inovações tecnológicas disponíveis, integrando essas experiências ao cooperativismo de plataforma. Pois, o Projeto não apenas atende a uma necessidade imediata de comercialização, mas também se coloca como um agente de transformação social, promovendo práticas cooperativas e solidárias, através de plataformas digitais, subvertendo a lógica capitalista, que prioriza a individualidade e a competição.

A tecnologia social se alinha a essa perspectiva de cooperativismo de plataforma na medida em que utiliza plataformas digitais para facilitar a colaboração entre cooperativas e seus membros, promovendo um modelo de organização que valoriza a participação e a autonomia das comunidades. Essas plataformas não apenas oferecem ferramentas para gestão e comercialização, mas também fomentam a troca de conhecimentos e experiências, essencial para o fortalecimento do cooperativismo e da economia solidária. Alvear et al., 2023 argumentam que 

Entre as inúmeras dificuldades que as cooperativas e empreendimentos econômicos solidários enfrentam, uma delas é o acesso a tecnologias e, principalmente, tecnologias apropriadas às suas formas de organização e valores. Autores como Dagnino (2004; 2019) e Varanda e Bocayuva (2009) destacam como as tecnologias convencionais reforçam valores e formas de organização capitalistas e, que dessa forma, a Tecnologia Social seria a tecnologia adequada aos empreendimentos solidários”(p.50).

A tecnologia social e a economia solidária ao serem integradas ao cooperativismo de plataforma, podem ajudar a construir redes mais robustas, onde as cooperativas de diferentes setores podem se unir e desenvolver soluções adaptadas às suas realidades locais. Isso é especialmente relevante em contextos de vulnerabilidade, onde as comunidades precisam de apoio para superar desafios econômicos e sociais. 

Resultados e discussão: as potencialidades e os desafios do Cooperativismo de Plataforma no âmbito da Agricultura Familiar

Como dissemos anteriormente, até os anos 1990, a agricultura familiar ocupou as margens da atenção estatal. A partir da década mencionada, pode ser observada uma transformação nos olhares voltados tanto para a prática agrícola quanto para a categoria de trabalho, o que ensejou a criação de políticas públicas para atendimento de demandas sociais para essa classe (Ferreira et al. 2023). Apesar dos avanços na criação de políticas públicas como PRONAF e PAA, ainda se tem um grande caminho a ser percorrido, a fim de garantir a sustentabilidade socioeconômica da agricultura familiar. Bittencourt (2020) argumenta que “[…] o desafio dos agricultores familiares é melhorar sua capacidade de inserção nos mercados locais, por meio da inovação, da adoção de tecnologias e do estabelecimento de redes sociotécnicas e cooperativas” (p.28).

Dessa forma, entendemos que o Projeto e-COO emerge como uma potencialidade no campo da agricultura familiar, tanto por se configurar como uma inovação tecnológica quanto pela contribuição científica. Enquanto plataforma digital, essa vem sendo gestada como uma tecnologia social, prezando por escolhas de baixo custo no que concerne ao ambiente tecnológico que será transferido aos agricultores familiares cooperados, que frequentemente enfrentam restrições financeiras. Isso significa que, mesmo com recursos limitados, os agricultores podem se beneficiar de ferramentas que otimizam sua produção e comercialização.

No campo da produção científica, temos a oportunidade de contribuir com as experiências acumuladas no desenvolvimento dessa tecnologia social. No entanto, enfrentamos o desafio de não termos outros estudos que abordem diretamente a interseção entre agricultura familiar e cooperativismo de plataforma para nos embasarmos cientificamente. Assim, trata-se de um projeto inovador tanto em termos tecnológicos quanto científicos.

Desafios

Em relação aos desafios encontrados até então, destacam-se:

  1. Precificação: articular condições viáveis entre os associados, isto é, tanto para quem vende, quanto para quem compra;
  2. Trabalhar com indicadores sociais que sejam coerentes com a proposta da economia solidária e do cooperativismo de plataforma, proporcionando condições de trabalho digno (fairwork);
  3. Logística: Implementar soluções viáveis para que os produtos da agricultura familiar saiam das lavouras e cheguem até as mesas com eficiência, qualidade e preço justo.
  4. Catástrofes climáticas: desde o início desse projeto, já enfrentamos pelo menos 4 eventos climáticos extremos, sendo um deles, as enchentes que assolaram todo o Rio Grande do Sul. Nesse período, os agricultores familiares de nossa região já perderam as suas produções diversas vezes.

Conclusão

Ao longo deste trabalho, o Projeto e-COO foi apresentado em quatro etapas centrais que permitiram uma visão abrangente de seu potencial e desafios. Iniciamos com uma análise histórica da agricultura familiar no Brasil, evidenciando as desigualdades no acesso à terra e os avanços proporcionados por políticas públicas como o PRONAF. Em seguida, exploramos a fundamentação teórica do projeto, embasada nos conceitos de cooperativismo de plataforma, tecnologias sociais e economia solidária, que sustentam a criação de uma plataforma digital inclusiva.

A metodologia envolveu a coleta de dados primários e secundários, o desenvolvimento da plataforma de comercialização e a análise de indicadores socioeconômicos. Por fim, discutimos as potencialidades da plataforma e os desafios enfrentados, como a precificação, logística e eventos climáticos. O projeto não só facilita a comercialização dos produtos agrícolas, mas também promove uma transformação estrutural nas práticas cooperativas e solidárias, contribuindo para um modelo de desenvolvimento mais justo e sustentável.

O projeto e-COO representa uma abordagem inovadora e interdisciplinar que busca unir os princípios da economia solidária, tecnologias sociais e cooperativismo de plataforma para fortalecer a agricultura familiar na região de Pelotas. Ao desenvolver uma plataforma digital que facilite a comercialização justa dos produtos agrícolas e produzir indicadores socioeconômicos, o projeto não apenas pretende melhorar as condições de trabalho dos agricultores, mas também contribuir para um desenvolvimento sustentável e inclusivo.

Diante disso, reconhecemos que uma fundamentação teórica sólida e alinhada ao tema é essencial para conectar as experiências práticas da realidade em que estamos inseridos com o conhecimento acumulado nas pesquisas já realizadas sobre agricultura familiar. Essa articulação permitirá não apenas uma compreensão mais profunda das dinâmicas locais, mas também a construção de soluções efetivas que respeitem e potencializem as especificidades desse segmento.

Leia mais em Agricultura familiar: desafios e limites no desenvolvimento do Projeto e-COO

Referências

ADAMS, Telmo et al. (2011) Tecnologia social e economia solidária: desafios educativos. Diálogo, n. 18, p. 13-35.

ALVEAR, Celso Alexandre,  et al. (2023). Economia Solidário 2.0: por um cooperativismo de plataforma solidário. P2P e Inovação, v. 9, n. 2, p. 42-61. DOI: 10.21721/p2p.2023v9n2.p42-61.

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BITTENCOURT, Daniel Matias de C. (2020). Agricultura familiar, desafios e oportunidades rumo à inovação.

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MINAYO, Maria Cecília.; DESLANDES, Suely. (2007) Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 25. ed. rev. atual. Petrópolis: Vozes. 108p.

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SINGER, Paul. (1997). Economia Solidária: geração de renda e alternativa ao neoliberalismo. In: Proposta– Revista Trimestral de Debates. São Paulo: FASE.

SCHOLZ, Trebor. (2017). Cooperativismo de plataforma: contestando a economia do compartilhamento corporativa. São Paulo, SP: Fundação Rosa Luxemburgo.

Autoras: Raizza Lopes, Viviani Kwecko, Lucia Nobre e Júlia Nyland.

Trabalho originalmente apresentado no XIX Seminário Internacional do Comitê Acadêmico de Processos Cooperativos e Associativos (PROCOAS) disponível em: https://www.youtube.com/playlist?list=PLyZimMT4QycMPfpYDuEaiQs-1nqdIIyUH

A vídeo apresentação também pode ser conferida no canal do youtube do e-COO: